Adeus

Suponho que “adeus” tenha surgido da seguinte forma: duas pessoas vão se despedir, e entregam a outra a Deus. Se for assim, então talvez a idéia completa fosse “te entrego a Deus”. Mais ou menos como um “fique com Deus” ou “vai com Deus” (minha vó diria “que Deus te proteja”, mas ela costuma se contentar com um “te cuida” – minha vó merece um post uma hora dessas).

Eu sempre considero um adeus como um tchau definitivo. Quando alguém morre, por exemplo. Adeus,  nunca mais nos veremos. Claro que uma das duas ou as duas pessoas podem acreditar em vida após a morte – mas pelo menos não se verão aqui na terra.
Quando duas pessoas não têm nenhuma perspectiva de encontrarem-se tão cedo, novamente. Uma delas vai viajar, por exemplo, ou vai morar em outro lugar.
Mas é sempre a mesma lógica : não nos veremos mais.
Um tchau é diferente: nele está implícito algum prazo, mesmo que indefinido, de reencontro: tchau, até amanhã; tchau, até mais. O adeus não tem prazo. Nunca mais nos veremos, ou, pelo menos, não esperamos nos reencontrar tão cedo.
Pode ser que as pessoas não esperem se reencontrar por motivos apenas óbvios: vamos ficar muito distantes e não frequentaremos mais os mesmos lugares, e também é muito longe (quer dizer, caro ou demorado ou ambos) para ir visitar. 
Mas agora, com e-mail, MSN e Internet em geral, ficou mais estranho dizer adeus por causa da distância. Porquê dizer adeus se poderemos trocar e-mails todos os dias e falar no MSN? Claro que mandar um abraço ou um beijo não é abraçar ou beijar. Mas mandar um beijo ou um abraço é legal tanto de mandar quanto de receber, mesmo pela internet. Enfim, não é um adeus.
Acho que o adeus restringiu-se a duas pessoas não esperarem se reencontrar tão cedo por falta de interesse de se reencontrarem. Não é bem falta de interesse, mas sim intenção. Adeus, é só uma hipótese, quer dizer “não quero mais te encontrar”.