1. “Deus criou homem e mulher” vem antes do relato do sono e da costela – o que desmente qualquer argumento em prol da secundariedade feminina.
2. Se o relato do sono e da costela for tomado ao pé da letra, mesmo assim ele não apresenta a mulher como uma subalterna do homem. Se o homem foi formado “diretamente” do barro, e a mulher a partir de um elemento humano (uma costela humana), isso serviria mais para fazer do homem um ser humano menos pleno do que a mulher – onde o homem seria um ser humano demasiadamente ligado à animalidade, um bicho-homem, e a mulher seria mais plenamente humana, um homem-humano. Na verdade esta lógica que inferioriza o homem em detrimento da mulher é tão nociva quanto a lógica do “Deus criou primeiro o homem, logo, ele vale mais”, mas eu só quis inverter o raciocínio para demonstrar que se pode extrair qualquer coisa do relato bíblico, e o texto acaba servindo para legitimar um pensamento que, longe de ter sido extraído do relato bíblico, já era uma convicção e o texto só serviu para dar uma aparência de legitimidade religiosa ao machismo – e isso vale para as sentenças de São Paulo sobre a mulher também (não estou dizendo que São Paulo era machista, e sim que o machista só quer apoiar seu machismo numa interpretação machista do que disse São Paulo).
2.1. No fim das contas, eu quis dizer que a Bíblia não inferioriza nem as mulheres e nem os homens, e sim as pessoas são quem inferiorizam umas às outras e ainda tentam usar a Bíblia como argumento do que fazem.
3. Estas reflexões foram motivadas pela leitura de uma audiência geral do papa João Paulo II.