Nova teoria:
S. Paulo pede que as mulheres sejam submissas aos maridos (Ef 5, 22), e justifica, no versículo 23, assim: “Pois o marido é a cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça da Igreja, ele, o Salvador do seu corpo.” (“ele” se refere a Cristo, suponho).
Bem, Cristo é a cabeça da Igreja, o Rei e Senhor, cuja coroa é de espinhos, e, Senhor da Igreja (esta, sua esposa submissa), se humilhou e se sacrificou por ela.
Então, se São Paulo está “condenando” as mulheres à submissão aos maridos tal como a Igreja se submete a Cristo, São Paulo também está “condenando” os maridos a agirem como “reis e senhores” (tal e qual Cristo), se humilhando e se sacrificando por elas. Porque se Cristo, o único Rei e Senhor agiu assim, os maridos, que devem ser a imagem do seu Rei e Senhor, devem seguir o exemplo.
Cristo reina sobre a Igreja, mas não vem ditar ordens à sua Esposa: errando ou acertando, está aí há 2000 anos procurando fazer a vontade de Cristo.
“Ah, mas olha os horrores e atrocidades que a Igreja blá blá blá” – bom, quem nunca errou tentando acertar? Quem nunca tomou um caminho errado na vida? A Igreja, aliás, não erra nunca, mas seus “operadores” erram na operacionalização: a Igreja compreende a vontade de Cristo, e os encarregados (Papa, bispos, leigos, etc;), às vezes, erram, e erram feio na execução desta vontade (erros que podem ser macabros como a Inquisição). Duvido que a vontade de Cristo sejam assassinatos em massa, e duvido que a Igreja tenha entendido “evangelizar” como uma licença para matar; mas quem foi lá operacionalizar a função agiu, acredito, conforme aquilo que carregava no coração (e, mais uma vez, há duas dimensões nisto: de um lado, o pecado hediondo de oprimir as pessoas pretensamente em nome de Deus, e, de outro, quem se permite atirar a primeira pedra?).
Acredito, enfim, que apedrejar a Igreja é, espiritualmente, apedrejar mais uma vez as mulheres. E assenhorar-se de uma ou de várias mulheres, seja em nome do que se lê em Efésios, seja por qualquer outro motivo, é usurpar o sacrifício de Cristo, o Todo Poderoso que se deixou ser humilhado, açoitado, morto e sepultado pelos nada poderosos.
Acho que o conselho de Paulo não era para soar como “obedece, muié!” (conforme o entendimento cristalizado ao longo dos séculos), e sim como uma lembrança de que, diante de um homem capaz de agir como Cristo e se humilhar (pois é isso que faz a cabeça da relação), cabe às mulheres não usarem seu poder para sujeitar à força quem deveria estar se sujeitando espontaneamente (ou seja, os homens), e sim lembrarem também que, poderosas, valem para elas o mesmo “modo de usar seu poder” apresentado por Cristo.
No fim das contas, penso que o norte do conselho de Paulo seja “Vós, que temeis a Cristo, submetei-vos uns aos outros…” (Ef 5, 21).