Na minha urna

Atualização pós-facada:
O atentado contra o J.B. foi ruim por ser um atentado contra a vida, por servir como argumento para um discurso (falso) de vitimização da direita e por fortalecer a candidatura dele, então eu acho que vou trocar a Marina pelo Haddad mesmo, e trocar o Suplicy por outra candidata.

Nestas eleições eu estou tendo que virar um cientista político especializado nas minhas próprias prioridades políticas, simbolismos e sacrifícios ideológicos.

O perfil do meu candidato ideal é:
– mulher
– que não seja os mesmos de sempre
– que seja de esquerda
– que seja cristão
– que não fomente o ódio
– que não queira acabar com a homossexualidade por decreto
– que não queira afirmar a homossexualidade por decreto
– que pareça entender que o aborto e o descaso com as mulheres (sejam as grávidas, sejam as com filhos pequenos, sejam as que não tem filhos) são o mesmo pecado
– que priorize as pessoas físicas em detrimento das pessoas jurídicas mas entenda que as empresas não são o inimigo
– que tenha o mínimo compromisso com uma distribuição de renda mais justa
– os outros critérios são pautas clássicas da esquerda

Então, para presidente, talvez eu vote no PT, principalmente por causa da Manuela (que é do PCdoB, eu sei), mas o problema é o Haddad – não que eu desgoste do Haddad, pelo contrário: acho que ele deveria ter sido lançado candidato a governador, tanto porque ele é mais conhecido em SP, quanto por ele ter mais condições de vencer o Dória, mas o PT resolveu colocá-lo como representante do Lula, provavelmente, por ser um dos poucos casos dentro do PT que não tenha o rabo preso (vontade de matar o PT por isto!). Acho que o PT deveria ter invertido a chapa e aceitado ser vice da Manuela (não com o Haddad, mas sim com o Suplicy) que também teria em seu favor o fato de ter sido endossada pelo Lula, e se fosse a Manuela a candidata eu iria até pra rua fazer campanha pra eles.

Mas do jeito que está, eu vou acabar votando na Marina, apesar do ranço dela contra a Dilma (que infelizmente é recíproco) e apesar de já ter apoiado o Aécio Neves (pobre Chico Mendes se revirando no túmulo…) – e não sei o que é pior nisto: ter apoiado o Aécio ou ter feito isso nem tanto pelo Aécio mas sim contra a Dilma…

Para o Senado, Suplicy. Em vez de pensar nisto como um sacrifício do perfil em que eu quero votar, estou pensando que ele entra na cota reservada para homens (porque eu também não posso ser radical acreditando que as mulheres vão salvar o mundo: é o protagonismo delas que vai melhorar o mundo, inclusive e em primeiro lugar para elas, eu espero); além disto o Suplicy apoia o pe. Júlio Lancellotti e o vicariato do povo de rua, o que para mim conta muitos pontos também (ter cantando Bob Dylan no congresso conta menos, mas também é um fato positivo :).
Além dele, a Rede (que não me interessa muito como partido, e sim como partido da Marina) tem uma candidatura coletiva encabeçada por uma mulher chamada Moira Lázaro, e provavelmente o meu segundo voto para o senado vai para ela(s).

Para deputado federal está mais complicado: Sâmia ou Erundina? Erundina ou Sâmia? Quando eu penso que ser católico e votar no PSOL pode parecer incoerente, eu lembro que ser católico e votar no Bolsonaro seria ainda mais incoerente (para votar em alguém sem culpa, eu votaria no Papa Francisco, mas como eu nunca vou ser um cardeal, estou fadado a escolher sempre com um pé atrás). Erundina ou Sâmia? Sâmia ou Erundina? A Erundina tem a favor toda a história política dela, enquanto que a Sâmia tem em seu favor o fato de ter entrado para a política faz dois anos. Sâmia ou Erundina? Erundina ou Sâmia? A Erundina é nordestina, e a Sâmia era, até virar vereadora, uma funcionária qualquer como todos nós. Erundina ou Sâmia? Sâmia ou Erundina? Por sorte, na dúvida, eu posso votar na legenda e seja o que Deus quiser. Sâmia ou Erundina? Erundina ou Sâm… tá, agora chega!

Para governador, professora Lisete, mas dividido entre ficar aliviado por votar em uma governadora e apreensivo por ela ser menos conhecida que o Dória e (valei-me minha Nossa Senhora dos serviços públicos que deveriam ser gratuitos e de qualidade) correr o risco dele ganhar e vender tudo como se o estado de São Paulo fosse uma gigantesca 25 de Março.

Para deputado estadual, do nada (nem tão do nada assim) eu encontrei um Mandato Coletivo Feminino, um Megazord de mulheres de quem eu nunca tinha ouvido falar na vida, o que é um risco (mas a segurança que eu sinto nos nomes famosos é tão ilusória…) que também é o preço da expectativa de renovar a política.

Aí, relendo o texto antes de publicar, eu percebi que o único voto que eu pretendo dar sem muita preocupação é para o Suplicy, o único homem da minha lista.
Se não fosse a concorrência com a Sâmia Bomfim, este voto despreocupado seria também na Erundina; e se não fosse o ranço anti-Dilma da Marina, o meu voto nela também seria despreocupado (primeiro pelo anti-dilmismo, mas também pelo receio do que ela possa fazer, se for eleita, por causa da triste porém justificada amargura contra o PT).
Embora eu tenha todas as explicações do mundo para estas ressalvas pontuais contra todas as mulheres em quem eu pretendo votar (a amargura justificada da Marina, o partido da Moira Lázaro, a concorrência entre a Erundina e a Sâmia, o risco-Dória no caso da professora Lisete e o absoluto anonimato de onde saiu, para mim, o Mandato Coletivo Feminino), é sintomático que apenas as candidaturas femininas tenham alguma ressalva.