A minha frustração artística é consequência imediata da minha falta de habilidade.
Eu sou (no sentido de “me considero”) um … magistral.
As reticências estão ali porque eu não sei o nome do que eu sou:
Público: eu sou o público das artes, um integrante das massas anônimas que vêem, assistem, prestigiam, ouvem, etc as obras de arte alheias. Mas público é público: o público usa metrô, e eu não sou um passageiro de destaque; o público opina, e eu não me destaco nas minhas opiniões; o público, aliás, é público e eu, apesar de ser tão público, sou muito privado (mezzo timidez, mezzo orgulho).
Consumidor: eu poderia me considerar um grande consumidor da arte, mas aí pareceria que eu compro. O problema é que dificilmente eu gasto um centavo com arte. Não me orgulho disto, mas todo o meu dinheiro vai para filhos, aluguel, cigarro, transportes e comida (e até a comida eu compro com va e vr, então nem gasto diretamente dinheiro em comida). Eu consumo vorazmente a arte com os sentidos e a mente, o que é virtuoso mas não movimenta o mercado.
Espectador: seria o termo mais exato, mas me parece muito restritivo a espetáculos como circo e teatro. Soa como platéia, e para mim significa gente sentada nas cadeiras vendo e ouvindo os artistas.
Leitor, ouvinte, fã: se restringem muito a determinadas áreas da arte.
Como se chama este ser passivo a quem a arte se dirige e em quem não produz arte depois que ela chega?
Além de não saber o que eu sou, eu não sei criar, e nem mesmo reproduzir externamente a arte. Ainda não encontrei a chave que abre a cela em que ela está presa dentro de mim. E talvez nunca a encontre.