Eu sempre achei que um dia daria certo na vida. Bem, nem sempre. Houve um tempo que isto não importava, em que eu apenas vivia, fazia o que tinha para fazer e deixava pra lá o que não dava. Simples assim.
Depois, sabe-se lá porque, eu comecei a querer. E a não conseguir. E desde então, agora sim, eu achei que um dia daria certo na vida. E nunca deu.
Na maior parte das vezes tudo dava errado antes de começar, era frustrante e dolorido e a vida seguia. Noutras vezes, a menor parte delas, as coisas começavam dando certo mas tudo dava errado no final. E era talvez até pior a frustração e a dor nesses casos.
Depois começou a piorar, e foi ficando cada vez pior. Até eu chegar no fundo do poço. Um poço bem fundo.
Deus foi quem se apresentou para me resgatar, e eu pensei que, desta vez daria certo enfim.
Mas parece que, afinal, Deus não me resgatou para que as coisas dessem certo, e sim somente para que eu não morra no processo.
Há um mérito gigantesco em quem, tendo sucesso na vida, escolhe Cristo em detrimento do sucesso que tem. Isso serve como testemunho. No meu caso, porém, o melhor que eu faço é me apagar.
Isto seria grave e perigoso em outra época, porque este apagamento seria literal. Mas não é o que acontece agora.
Eu apenas não pretendo mais ir além do que a vida pede: trabalhar, mandar dinheiro para as crianças, manter um contato, receber quem tem que receber, e não esperar quem não veio ainda. E não esperar o que não veio ainda.
Eu não sou grandes coisas. Sigo Cristo não como algum dos apóstolos, mas sim como um anônimo. Alguém sem nome que está lá.
Não é que eu esteja me retirando para o anonimato: eu nunca saí dele e sobrevalorizo as migalhas de sucessos medíocres que já tive. Sempre fui o personagem do Poema em Linha Reta do Fernando Pessoa, mas não tanto pela vileza, que vilões também são sucesso hoje em dia, mas pela mesquinharia da vileza. Não vil por ser mau, mas por ser pequeno, pouco, apagado.