Colocar o apego ao dinheiro – ou a quaisquer outras posses – acima do bem comum é uma atitude nefasta cuja maldade se manifesta na miséria, no egoísmo e na cultura de morte contemporâneos.
Por outro lado, o bem alheio não se encontra em nossos bolsos necessariamente, ou seja, não dependemos de ter dinheiro para fazer o bem.
Quando os discípulos perguntam a Cristo “Queres que gastemos duzentos denários para comprar pão e dar-lhes de comer?” (Mc 6, 37), ele não diz “é, é isso mesmo! Vamos todo mundo coçando os bolsos.”, nem “não, porque somos maiores do que estas coisas mundanas”, mas apenas pede que alguém vá ver quantos pães tem – e descobrimos que eles tem cinco pães e dois peixes.
Talvez daí que tenha surgido a expressão “o pouco com Deus é muito” (e seu corolário: “o muito sem Deus é nada”), mas esta expressão omite um aspecto fundamental do pouco multiplicado: compartilhar.
Dividir o pouco entre todos não sugere dinheiro, rios de dinheiro, embora supostamente (para a alegria dos defensores do “não existe almoço grátis”) alguém tenha comprado estes pães, e também a rede onde foram pescados os peixes. Mas o que está em jogo é o que se tem para compartilhar, e não o que se poderia ter, e nem mesmo está em jogo o que se deveria ter. A questão é ajudar-se mutuamente com aquilo que se tem.
O milagre da multiplicação dos pães não é um milagre gastronômico e nem econômico: é sim o milagre de, querendo fazer o bem a um grande número de pessoas sem ter tantos recursos para isto, Deus agir para multiplicar o pouco e, assim, dividir o pouco entre muitos