Se o cristianismo avançasse sobre a política as coisas não iriam melhorar como que num passe de mágica.
Mas seria um lastro melhor do que o atual, a cobiça. Principalmente a financeira, mas a política tem sido movida pela cobiça em geral.
Esta cobiça que agora se volta para o cristianismo e faz a política avançar sobre ele como uma fera pronta para dilacerar sua presa.
Esta fera, a política, não sabe distinguir uma coisa da outra, porém, e é por isto que não vê que o cristianismo é outra coisa, e não isto sobre o qual avança, dilacera e consome.
Neste furor ensandecido, sem querer, a fera consome aquilo que, de outro modo, permaneceria colado ao cristianismo tentando sempre se identificar com ele. Não que a fera – nem a cobiça que a atiça – mereça os parabéns, mas talvez seja Deus tirando algo bom de algo mau (o que, não custa repetir, não legitima o que é mau).
Acho que esta fera está comendo o messianismo, a teologia da prosperidade, a teologia da libertação, o personalismo, e sei lá o que mais grudou no cristianismo como sacolas plásticas grudam em um animal marinho.
Não acho que já seja a separação do joio e do trigo, que afinal de contas será feita por só no final. Mas acho que seja uma limpeza superficial – e imprescindível, apesar de superficial.
Quanto aos servos da cobiça, talvez sirvam os versículos 15 e 16 do salmo 7:
“Eis que o ímpio concebeu a iniqüidade, engravidou e deu à luz a falsidade. Um buraco ele cavou e aprofundou, mas ele mesmo nessa cova foi cair.”
Os versículos imediatamente anteriores (13 e 14) deste mesmo salmo se aplicam, eu acho, a estes servos da cobiça: “Se para ele o coração não converterem, preparará a sua espada e o seu arco, e contra eles voltará as suas armas. Setas mortais ele prepara e os alveja, e dispara suas flechas como raios.”
Acho que estas setas mortais e as armas que Deus volta contra os ímpios são aquilo descrito no versículo 16, a queda na cova cavada por eles mesmos. Quem não converte seu coração a Deus cai no buraco que cavou e esta conseqüência automática são as tais armas. “O Deus vivo é um escudo protetor, e salva os que tem reto coração” (Sl 7, 11) é o que Deus – o escudo protetor – faz deixando a fera consumir o que não é cristão no cristianismo, e a salvação dos que tem reto coração é o que acontece aos caídos na cova que eles mesmos cavaram, desde que a queda os leve a converterem o coração.
Talvez eu esteja só projetando o que mais ou menos foi até aqui a minha vida (concebi a iniqüidade, engravidei e dei uma à luz a falsidade, cavei e aprofundei um buraco no qual eu mesmo fui cair, etc.); talvez eu esteja projetando minha história pessoal na política nacional.
Mas quem garante que não é a política nacional reproduzindo minhas burrices pessoais?