A misericórdia de Deus é insuperável – as maldades, os pecados, as desconfianças e as descrenças, nada disto supera a sua misericóridia. E os outros atributos de Deus também superam qualquer um dos nossos, exceto a nossa liberdade – não porque Deus não seja maior do que ela, e sim porque lhe dá tanto valor que não nos obriga a nada, quando poderia muito bem fazê-lo.
E se é verdade que não é a nossa liberdade que nos salva, também é verdade que ela é uma condição para sermos salvos por Deus, que não quer ninguém aceitando-o contra a própria vontade. Isto comporta uma imensa beleza quanto, igualmente, um terror: quem não quiser Deus não salva. Perdoa, dá chance, instrui, etc., mas (e isto é a minha opinião) quem não quiser, não será salvo apenas por não querer, ou melhor, apenas pelo respeito que Deus tem pela liberdade de quem quer e de quem não quer sua salvação.
Isto é diferente das propostas de redenção contemporâneas, que põem a responsabilidade pela obtenção de sucesso nas costas de quem não o tem. Por mais que a nossa participação na obra divina seja imprescindível, a responsabilidade pela nossa salvação é de Deus. Cabe a nós trabalharmos interior e exteriormente para, no fim das contas, podermos dizer sim a Deus com a liberdade que ele deseja, mas este trabalho é indispensável por outras razões, pois quem nos salva é Deus e não nossos esforços (reforçando que em outros aspectos são indispensáveis),
Além disto, estas redenções contemporâneas oferecem a felicidade o fazem em nome de si mesmas, até mesmo quando terceirizam a relização da felicidade, ou dizem prometê-la em nome de Deus – que convida para a felicidade, mas não dá garantias a ninguém. As garantias que Deus nos dá são daquilo que está nas mãos dele: o perdão, a misericórdia, a redenção, a vida eterna, etc. Mas ninguém na terra tem a salvação garantida. Aliás, nem o sucesso, que é outra coisa, mas também é oferecido como o fazia Ananias com a felicidade, e era justamente disto que Jeremias falava no versículo 10.
Deus nos diz com clareza o que quer e nos oferece os meios para o fazermos, mas não promete nada que não possa assegurar, e a nossa liberdade Deus não impede; ele a orienta, ensina, fomenta as decisões certas, mas não impede que sejamos livre, porque é isto, sermos livres que ele nos oferece, ao invés das receitas de sucesso que podemos ver por aí.