Transfiguração do Senhor

Explosões, tremores de terra, vidros estilhaçados e móveis revirados; nas ruas, destroços do que parece o resultado de anos de guerra – mas no começo do dia tudo estava intacto, pessoas ensanguentadas pelas ruas, hospitais já no limite graças à COVID agora lotados com os feridos das explosões que não vieram de nenhuma guerra, nenhuma queda, nenhuma bomba, é quase como se tivessem vindo de lugar algum.
Como comemorar a Transfiguração do Senhor apenas dois dias depois de uma tragédia destas? Em que pode se transformar uma  festa da Transfiguração quando os rostos, os corpos e as ruas de um lugar se tornam desfigurados por uma dor quase que gratuita?
O capítulo 17 de Mateus, que começa com o êxtase dos três apóstolos na Transfiguração, termina na aflição deles por causa do anúncio da Paixão, quando Cristo se sacrificou por nós. A Transfiguração foi, apesar  de real, apenas didática e simbólica. Na Paixão de Cristo é que fomos redimidos, e para isto Cristo, transfigurado no Tabor, desfigurou-se pelo peso dos suplícios no Calvário.
Afinal as tragédias, das quais a explosão em Beirute foi apenas a mais recente, pois convivemos com tragédias diárias, que não são filmadas, quando muito, denunciadas, mas por serem contidianas viram notas, às vezes de repúdio, e precisam ser tratadas mais ou menos do mesmo jeito que ocorrem, com o passar do tempo. Mas que a celebração da festa da Transfiguração de Cristo ocorra em meio a uma pandemia e dois dias depois das explosões no Líbano apenas reforça que até que venha a Páscoa, a Transfiguração é um momento apenas passageiro.
O sofrimento não tem a palavra final, mas é inevitável percorrer o seu caminho. Cristo nos salva, de várias formas diferentes, todos os dias, mas menos como um super-herói que evita o sofrimento, e mais como um sofredor ajudando a outro.
No fim a felicidade terá a última palavra, mas este é um lembrete que não deve ser feito neste momento.