Cristo é explícito ao afirmar que quem quiser salvar sua vida vai perdê-la, mas quem perdê-la por causa dele (pois há outros jeitos de perder a vida) irá encontrá-la. Isto remete imediatamente aos mártires, mas seu martírio só tem sentido quando se observa algo a mais que não está explícito na afirmação de Cristo.
Se é necessário perder a vida por Cristo, é porque antes disto é necessário viver por ele. Se Cristo ressalta a necessidade de perder a vida por ele é porque se trata do que ele veio revelar, e não é óbvia, sem esta revelação, a necessidade de perder a vida por ele; mas a partir disto, se torna óbvio que, antes de morrer, é necessário viver por ele.
Os mártires não são mártires por causa da crueldade inadmissível de quem os executou, mas por encontrarem em Cristo a vida, e manterem-se junto à vida mesmo diante da crueldade definitiva dos seus executores. O objetivo, seja dos mártires, seja de Cristo, não é o martírio, e sim a vida, que é o que Cristo nos oferece, não importa o que pensemos que seja ou não a vida.
Tudo o que compreendemos como vida é uma semente, uma potência de vida que realmente é vida, mas é perecível fora do solo. Uma vez no solo, a semente não morre, embora desapareça porque se transforma em flor – assim como a vida perdida por Cristo não se perde, mas se transforma naquilo que todo o resto que compreendemos como vida promete.
Se nos mantivermos agarrados às promesas de vida, continuaremos procurando-a sem nunca encontrar, desistindo de buscar, ou destruindo até mesmo a promessa de vida que há em tudo aquilo que Deus criou.
Mas se vivermos por Cristo, será possível realizar a promessa de vida que há em toda a criação, tanto antes quanto depois de morrer.