Deus passou a maior parte do Antigo Testamento atrelando o povo eleito a si, em um interminável jogo de traição-perdão-fidelidade, onde o povo traía Deus, que ia na contramão mantendo-se fiel e perdoando, então o povo prometia uma fidelidade que, vê-se depois, não iria manter.
De tanto trazer o povo a si, em Cristo Deus decidiu vir até o povo, e mais ainda: em vez de atrelá-lo como outrora, atrelou-se ele próprio a este povo, tornando-se mais um membro dele. Integrando-se ao seu próprio povo como apenas mais um membro, Cristo viveu as alegrias, as tristezas, as vitórias e as dificuldades do povo junto a ele, mas sendo ao mesmo tempo Deus, salvou-o ao morrer pela vida deste mesmo povo, do qual é Senhor e ao mesmo tempo integrante, ainda que rejeitado como antes.
Nestes tempos em que se problematiza vivências como o poliamor, temos São Maximiliano Maria Kolbe seguindo os passos de Cristo por amor a um homem, e não só a ele, mas também a sua mulher e sua família – a quem o santo amou a ponto de repetir de forma literal a entrega de Cristo, morrendo por quem tanto amou.
Assim como o de Cristo, o poliamor do santo não viu aí vantagem nenhuma para si. Prescindindo de qualquer envolvimento sexual ou desejo frustrado, poliamou mais do que qualquer tipo de amante jamais poderia sonhar em amar – apesar de este amor estar aí, disponível para quem quer que seja.
Todas as formas de amor – mesmo a de Maximiliano Maria Kolbe – são tentativas de amar; mas somente poderão ser fecundas e transformarem-se mesmo em amor além da tentativa na medida em que florescerem no poliamor de Cristo que brotou na sua Paixão e morte cruz.