Efésios e a submissão das mulheres

Na carta aos Efésios, São Paulo escreve a eles no quinto capítulo, o seguinte: “21.Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo. 22.As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, 23.pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. 24.Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. 25.Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, 26.para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, 27.para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. 28.Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. 29.Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja – 30.porque somos membros de seu corpo.”

No versículo 21, ele pede que todos sujeitem-se uns aos outros no temor de Cristo. No versículo seguinte, pede que as mulheres sejam submissas aos seus maridos e, no próximo versículo (23) explica que o marido é o chefe da mulher assim como Cristo é o chefe da Igreja.

Então, em primeiro lugar, todos devem se sujeitar a todos, conforme o versículo 21. Alguém que queira argumentar que as mulheres devem obediência aos homens por causa do versículo 22, deve lembrar que Cristo, que é o chefe da Igreja, disse em Mt 20, 27, “E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo.”, e como se não bastasse, depois disto não só se fez um escravo, mas ainda por cima sofreu e morreu pelos nossos pecados para depois ressuscitar para nos salvar, ou seja, o chefe da mulher, à exemplo de Cristo, deve fazer a mesma coisa: fazer-se escravo dela (não quero dizer à moda do 50 Tons de Cinza, é claro).
Repetindo o versículo 21, São Paulo pede que todos sujeitem-se uns aos outros, e no 22, pede que as mulheres sejam submissas a seus maridos como ao Senhor – o que é a mesma coisa que São Paulo disse no versículo 21 para todos, só se dirigindo em particular (no v. 22) às mulheres e acrescentando “como ao Senhor”.

A recomendação aos maridos (que não estão excluídos da orientação do versículo 21) é que amem suas mulheres como Cristo amou a Igreja, o que leva novamente a sacrificar-se pela mulher (“sacrificar-se”, e não “sacrificá-la”), e, inclusive, a amá-la como ao seu próprio corpo, o que inclui, entre outras coisas, o prazer – quero dizer que antes de buscar o próprio prazer, seja por si só, seja na cama com ela, ou antes de fazer o oposto, buscar apenas o prazer dela, o que deve fazer (alguém que ame a mulher como ao seu próprio corpo) é buscar o prazer dela juntamente com o próprio, e buscar o prazer dela implica em atender ao que ela quer, em  perguntar o que ela quer, inclusive perguntar se ela quer, porque ela pode não estar afim agora, enfim…

Caso alguém ainda tenha dúvidas sobre se São Paulo estava dando toda essa moral para os homens, basta ler o versículo 33 (que eu não copiei ali em cima), em que São Paulo diz que, no fim das contas, o que importa é que elas os respeitem, e eles, as amem como a si mesmos.

Notas rápidas sobre o relato da criação na Bíblia

1. “Deus criou homem e mulher” vem antes do relato do sono e da costela – o que desmente qualquer argumento em prol da secundariedade feminina.

2. Se o relato do sono e da costela for tomado ao pé da letra, mesmo assim ele não apresenta a mulher como uma subalterna do homem. Se o homem foi formado “diretamente” do barro, e a mulher a partir de um elemento humano (uma costela humana), isso serviria mais para fazer do homem um ser humano menos pleno do que a mulher – onde o homem seria um ser humano demasiadamente ligado à animalidade, um bicho-homem, e a mulher seria mais plenamente humana, um homem-humano. Na verdade esta lógica que inferioriza o homem em detrimento da mulher é tão nociva quanto a lógica do “Deus criou primeiro o homem, logo, ele vale mais”, mas eu só quis inverter o raciocínio para demonstrar que se pode extrair qualquer coisa do relato bíblico, e o texto acaba servindo para legitimar um pensamento que, longe de ter sido extraído do relato bíblico, já  era uma convicção e o texto só serviu para dar uma aparência de legitimidade religiosa ao machismo – e isso vale para as sentenças de São Paulo sobre a mulher também (não estou dizendo que São Paulo era machista, e sim que o machista só quer apoiar seu machismo numa interpretação machista do que disse  São Paulo).

2.1. No fim das contas, eu quis dizer  que a Bíblia não inferioriza nem as mulheres e nem os homens, e sim as pessoas são quem inferiorizam umas às outras e ainda tentam usar a Bíblia como argumento do que fazem.

3. Estas reflexões foram motivadas pela leitura de uma audiência geral do papa João Paulo II.

Qualquer texto é menor do que a vida de qualquer pessoa

Este é provavelmente mais um post que será um rascunho e não vou publicar porque estou escrevendo-o movido exclusivamente pelo meu desejo de escrever.
No momento, eu tenho um monte de tarefas para fazer, mas eu queria muito escrever, e é isto o que eu estou fazendo.
É mais ou menos como quando dá uma vontade de cantar, mas, neste caso, com a caneta (que arcaico) ou com as pontas do dedo se dirigindo quase que por si sós às teclas correspondentes às letras que formam as palavras que desejo escrever.
Eu desejo ficar escrevendo mais sobre qualquer coisa nenhuma, mas tenho que tentar manter um (des)equilíbrio entre as coisas, então vou ter que me contentar com o que foi escrito até aqui.
P.S.: só gostaria de ter usado este título (que eu achei muito) legal em um texto mais interessante.

Escalas

Às vezes me sinto como uma corda estendida entre o prazer e o dever.
É claro que existem deveres que são prazerosos, ou que não são prazerosos mas cujo resultado o é, e ainda há os deveres cujo prazer é intermitente: às vezes são prazerosos e às vezes não são.
Os prazeres, eles também, às vezes acontece de não serem prazerosos no seu resultado, e por mais estranho que pareça, já corri atrás de prazeres cujo processo não foi nada prazeroso, algumas vezes com um resultado idem – sem contar as vezes em que fiz do prazer um dever e os resultados foram desastrosos, seja a curto, médio ou longo prazo.
Mas no momento, sou esta corda estendida entre o prazer impedido de desfrutar do meu dia como eu quiser, e o dever de entrar no trabalho 12:00.
Tudo o que me ocorre que eu possa fazer com esta tensão é tentar transformar esta corda tensionada em uma corda de violão, e fazer desta tensão uma afinação e, dedilhando esta tensão, tirar dela algumas notas musicais que, se não forem tão prazerosas, pelo menos que sejam um pouco bonitas.

20 minutos

São 15:40, e faltam 20 minutos para começar o meu expediente.
Nos últimos meses tenho trabalhado 12 horas por dia em pelo menos três dos dias da semana, 8 horas nos outros dias e folgado nas quartas (saudades das folgas serem nas terças).
Agora já faltam 19 minutos, e eu só espero que não haja excesso de rispidez da parte dos outros, e nem que eu dê margem a isto (às vezes a rispidez alheia é até justificada).
Faltam 18 minutos, e vou fumar o último cigarro até meia-noite. Quem me dera saber lidar melhor com meus problemas do que fumando-os.
16 minutos. Já me planejo subir, botar uniforme, ir no banheiro, lavar o rosto e tomar agua, um processo que precisa levar no máximo 5 minutos.
14 minutos. Ainda tem meio cigarro mas já acabou o dia, e outro vai logo começar. Conter emoções, lidar com as dos outros e atender os clientes – internos e externos.
13 minutos. Mais dois ou três pegas no cigarro.
12 minutos. Seja o que Deus quiser.

"A submissão recíproca ‘no temor de Cristo’ "

Lendo o texto da audiência geral do finado São João Paulo II, de 11 de agosto de 82, eu noto como me sinto desconfortável diante da passagem da carta aos Efésios que orienta as mulheres a serem submissas aos maridos.
Ainda me sinto assim, mas segue uma tentativa de compreensão da passagem, que não é um resumo mas se baseia no referido texto de JPII.
O que São Paulo expõe nesta parte da carta aos Efésios são normas para o casamento, e o casamento é apresentado como sendo – devendo ser – uma imagem da relação entre Cristo e a Igreja. Isso cai bem para a Igreja (simbolizada pela mulher) que deve ter Cristo (simbolizado pelo homem) como sua cabeça.
Mas não cai bem, não para mim, que a mulher (que simboliza a Igreja) seja submissa ao homem para  fazer jus à imagem – pois às vezes as consequências desta submissão, simbólica enquanto teologia, mas real e concreta enquanto experiência vivida, são nefastas.
O mesmo princípio que torna a  mulher submissa ao homem, torna o homem uma vítima da mulher. É muito fácil concluir, a partir disto, que o homem é quem manda e a mulher quem obedece, e que o pobre homem é uma vítima da malvada mulher – e além de ser fácil, é uma conclusão errada (nem toda conclusão fácil está errada porque é fácil, mas a maioria das conclusões erradas são também conclusões fáceis).
A mulher que se submete ao homem se submete a alguém que se coloca aos pés dela. É verdade que é ele quem se coloca e não é colocado aos pés dela por outrem, mas também é verdade que quem se submete é ela, e não é submetida a ele por outrem. E é por isto que, na mesma carta aos Efésios, São Paulo fala em submissão recíproca, e não em submissão unilateral.
Trata-se de aceitar ser submissa, e de aceitar ser vítima. Não se trata de ser submissa a um tirano doméstico, muito menos à violência, e sim de aceitar decisões; bem como não se trata de vitimar-se  diante de uma  tirana implacável, mas sim de acatar os seus desejos.
Eu resumiria isso em: ela deseja e ele faz acontecer o desejo dela. Ela projeta, ele executa. Coisas assim.
Nada disso implica no impedimento de trabalhar  fora, nem em exigir dela  tal ou qual comportamento, nem em sequer  supor inferioridade intelectual, espiritual, moral, etc. de qualquer mulher, e em resumo, não implica em nenhum argumento que submeta as mulheres aos desmandos de qualquer homem, mesmo que sejam bem-intencionados.

Não é que eu não goste mais, pelo contrário. Mas devo deixar prá lá. Não posso obrigar ninguém a me incluir em seus planos, seu futuro, nem em seu coração. Não é que eu não tenha nada a oferecer – mas apenas não tenho nada que seu coração queira. Não posso deixar-me de lado por você, nem você pode deixar-se de lado por ninguém, assim espero. Não caibo em suas medidas e não são elas – e tampouco eu – que estão erradas: você tem seus critérios e eu não me encontro em nenhum deles; é simples. Não quero evitar a dor, a frustração nem a saudade – só quero evitar que venham em doses cavalares. Mas, além disto, quero imensamente evitar que você se transforme, dentro de mim, em uma má lembrança e em um indesejável sentimento.

Hipátia

Alexandria é um filme sobre como Hipátia morreu por causas políticas alheias a ela. Cristãos, judeus e pagãos vivem na Alexandria entre o final dos anos 300 e o início dos 400, e essa convivência é, digamos, harmonicamente tensa, até que todos briga, os cristãos destroem a biblioteca de Alexandria, depois a convivência pacífica juntamente com a tolerância religiosa e, por último, o Império Romano (o que não aparece no filme, mas foi assim, assumindo as rédeas das cidades, que o cristianismo, tanto para bem quanto para mal, assumiu o legado do já convalescente Império Romano e veja o filme porque ele é bom).

No filme, nenhum credo é tratado como santo ou vítima. Todos sofrem algum tipo de desrespeito e todos reagem de maneira desproporcional à ofensa sofrida. Os cristãos, porém, aparecem como levemente piores. Porque eles provocam. Eles não atiram a primeira pedra, mas irritam tanto que fazem com que os outros atirem, e depois não dão a outra face (um dos personagens, cuja morte foi o estopim da morte de Hipátia, responde que não devemos querer nos igualar a Deus, depois de um escravo dizer que uma pessoa o perdoou, mas ele próprio não consegue perdoar esta mesma pessoa…).

Não duvido que apareçam pessoas para dizer que o cristianismo é, hoje, do mesmo jeito que é apresentado no filme, e também que apareçam pessoas para dizer que o filme é um libelo anticristão. Essas pessoas se merecem e certamente ficarão muito felizes discutindo entre si, mas cada um faz do seu tempo o que preferir.

Acho que, da parte do cristianismo, o filme retrata um problema sério, uma variante do joio que vai crescendo junto com o trigo, digamos. Talvez uma ou duas variantes.

Uma delas é o excesso de zelo cristão que não raramente decai em cristianizar à força o maior número de pessoas possível. “Cristianizar”, e não evangelizar, catequisar ou converter. Aliás, cristianizar coisas é bom, mas fazê-lo à força não. Chamo de cristianizar essa transformação da cultura vigente em uma cultura em conformidade com o cristianismo. Tudo bem que a sociedade achasse por bem virar cristã, mas tudo mal que isso ocorra de maneira violenta e desleal, e isso o cristianismo soube fazer muito bem. Quando se fala em igreja santa e pecadora, essa parte corresponde ao pecadora. E o problema não é o excesso de zelo, e sim a crença de (espero que) alguns poucos cristãos em que todos à sua volta são obrigados a serem cristãos e a agirem como tal. Aí ao invés de zelar por si, às vezes acaba-se por zelar pelos outros, sem levar em conta a concordância deles em serem assim zelados.

Aí entra outro joio, ou pelo menos outra coisa que para mim é um mal recorrente. O cristianismo virou uma espécie de PMDB, sempre infiltrado no poder temporal. Certamente os fins do cristianismo são bem mais nobres do que os do PMDB, mas as consequências, se já são incômodas para quem não é cristão (pois muitas vezes precisam viver como se assim fossem), são ainda piores para o cristianismo. O cristianismo não deve ficar distante da vida e nem do poder político, como querem alguns. Mas também não pode cristianizar a sociedade à força de leis. Que o aborto, por exemplo, seja pecado, tudo bem. Mas impedir pecados, por piores que sejam, por meio de leis que afetam todos, cristãos e não-cristãos, é um tipo de opressão que Deus, por exemplo, não impôs às pessoas (porque Deus não endossa nem estimula pecados, mas os coíbe pedindo que não sejam cometidos, e não impedindo que sejam cometidos – mesmo que hajam penas temporais consequentes de pecados, a própria ocorrência destas penas atesta que Deus pede que não se peque, mas não impede que se peque). Longe de mim sugerir à Igreja que abandone seus meios de ação. Se as pessoas quiserem cristianizar os povos por meio de leis civis, por mim tudo bem. Mas é uma atitude estratégica e espiritualmente contraproducente. Defendo tanto o direito de quem não é cristão se debater contra a imposição de leis fundamentadas exclusivamente em critérios cristãos, quanto o direito de cristãos tentarem legalizar civilmente princípios religiosos (política é isso aí, diversos interesses em conflito), mas por mais que eu apoie os princípios cristãos, não aprovo que valham para todos por força de leis civis.

As duas modalidades de joio, o excesso de zelo e a infiltração no poder temporal, são na verdade duas coisas intrinsecamente ligadas, e não seriam, por si só, problemáticas. O problema consiste apenas na manifestação da tendência à oprimir os outros que, infelizmente, não é exclusiva do cristianismo (e também não é característica do cristianismo, só para esclarecer).

No fim das contas, o que matou Hipátia foi o bom e velho desprezo pela liberdade, que há anos mata mais por muito menos.

Mostra do cinema francês contemporâneo

*SESC SÃO LEOPOLDO CONVIDA:*

*MOSTRA DO CINEMA FRANCÊS CONTEMPORÂNEO *

A Mostra do Cinema Francês Contemporâneo foi uma iniciativa que integrou as comemorações do Ano da França no Brasil, em 2009, e que em função da sua ótima repercussão, será promovida em São Leopoldo pelo *Arte Sesc –Cultura por toda parte*. O objetivo da mostra é proporcionar o acesso a obras contemporâneas e o diálogo entre artistas, intelectuais e o público em geral. A curadoria dos filmes foi feita pela tradicional revista Lês Cahiers Du Cinéma, promotora histórica da reflexão sobre a arte do cinema.

*Local: Sala de Cinema do Centro Cultural José Pedro Boéssio (Rua Osvaldo Aranha, 934)* *Horário: 19h* *Entrada Franca* *Apoio: Secretaria Municipal de Cultura de São Leopoldo* *Realização: SESC RS*

*Programação:*

*01/03 (TER)* *A Esquiva * *L’esquive* (2003). De Abdellatif Kechiche – Comédia dramática -Duração 117’.
Em um conjunto habitacional no subúrbio parisiense, um anjo passa declamando apaixonadamente versos da peça “Le jeu de l’amour et du hasard”. É Lydia, embalada por Marivaux e às voltas com os ensaios do espetáculo a ser montado por sua turma de sala de aula para as festividades da escola. Já Abdelkrim, apelidado de “Krimo”, no auge de seus 15 anos, é arriado pela sua colega de sala. Ele que se arrasta levando seu tédio pelas quebradas suburbanas em companhia de sua galera, descobre repentinamente o amor. Mas Krimo não é do gênero expansivo além de ter que manter a fachada.Então como se declarar à garota sem perder a pose? Uma solução se impõe: corromper seu amigo Rachid, parceiro de cena com Lydia, para obter o papel de Arlequim. O que Krimo não ousa dizer, Marivaux o fará em seu lugar! Mas a astuciosa manobra torna-se verdadeira odisséia para Krimo, apavorado com a amplitude do texto e as exigências implacáveis de sua professora de francês. Kim encontrará as palavras a serem ditas antes que o boato, as ciumeiras e as inimizades não se metam em seu caminho?

*03/03 (QUI)* *Até já * *A tout de suite* (2004). De Benoit Jacquot – Drama – Duração 95’.

Ao desligar o telefone depois de um “até já” do namorado, ela sabe muito bem sem saber ainda aquilo que ela nem imaginava: aquele que ela ama, aquele “príncipe” de parte alguma é um bandido. Ele acaba de cometer um assalto, há mortos. Estamos nos anos 70, ela tem 19 anos e, como num sonho acordado, salta do espaço restrito do apartamento paterno – de longos corredores, num belo bairro – e mergulha de cabeça numa geografia fugitiva – da Espanha para o Marrocos e para a Grécia – passando de uma vida de garota normal para vida que ela escolheu, com suas delícias e conseqüências.

*15/03 (TER)* *Assassinas* *Meurtrières* (2005). De Patrice Grandperret – Drama – 97’.

O encontro de duas jovens normais e um pouco frágeis. Entre elas, uma identicacação imediata. Juntas, elas são fortes, eufóricas. Sem muita sorte, nem muito dinheiro, elas têm apenas seus sonhos. Duas jovens em busca do amor. Cada instante que passa, cada encontro lhes fecha um pouco mais as portas de um mundo que elas não têm as chaves. Com nada no bolso, não se vai longe, ou diretamente muito longe.

*17/03 (QUI)* *De volta à Normandia * *Retour en Normandie* (2006). De Nicolas Philibert. Documentário – Duração 113’.

Em 1975, Nicolas Philibert foi assistente de direção de René Allio em Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão, baseado num crime local descrito em livro pelo filósofo Michel Foucault. Filmado na Normandia, a alguns quilômetros de onde aconteceu o triplo assassinato, o traço mais especial do trabalho de Allio era o fato de que todos os personagens do filme foram interpretados por camponeses da região. Trinta anos depois, Philibert retorna à Normandia para reencontrar estes atores de ocasião, personagens da vida real.

*22/03 (TER)* *O Último dos Loucos* *Le dernier des fous* (2006). De Laurent Achard – Drama – Duração 96’.

É verão e começo das férias. Martin tem onze anos, vive na fazenda de seus pais e observa, desamparado, a desunião de sua família: sua mãe vive enfurnada em seu quarto, seu irmão mais velho, que ele adora, se afoga no álcool, e seu pai é dominado pela avó. O menino assiste a um desastre familiar. Mas Mistigri, seu gato, e Malika, uma amiga marroquina procuram lhe reconfortar de alguma forma.

*29/03 (TER)* *Povoado number one* *Bled Number One *(2006).* *De Rabah Ameur Zaïmeche – Drama – Duração 100’.

Mal saiu da prisão, Kamel é expulso da França para seu país de origem, a Argélia. Este exílio forçado o leva a observar com lucidez um país em plena transformação dividido entre o desejo de modernidade e o peso das tradições ancestrais. **

*31/03 (QUI)* *A França * *La France* (2007). De Serze Bozon – Drama – Duração 102’.

No outono de 1917, a guerra prossegue. A milhas de distância do campo de batalha, a jovem Camille leva uma vida marcada pelas notícias que seu marido manda do front. Um dia ela recebe uma carta em que ele termina com o casamento. Desnorteada e determinada a continuar a qualquer custo, Camille decide se disfarçar de homem para encontrá-lo. Ela segue direto ao front de guerra, cortando caminho pelos campos para evitar as autoridades. Numa floresta, passa por um pequeno grupo de soldados que não suspeita de sua identidade. Ela os segue e assim embarca numa nova vida e, conforme os dias e as noites passam, descobre o que nunca poderia imaginar, o que seu marido nunca lhe contou e o que seus novos companheiros irão evitar lhe mostrar: a verdadeira França.

*05/04 (TER)* *Tudo Perdoado * *Tout est pardonné* (2007). De Mia Hansen-Løve – Drama – Duração 95’.

Victor vive em Viena com Annette, sua esposa e sua filha Pamela. É primavera. Fugindo do trabalho, Victor passa os dias fora, brinca com a filha e vadia no Parque. Apaixonada, Annette está confiante que ele se ajeitará. Mas Victor não abandona os maus hábitos e acaba se apaixonando por uma jovem junkie. Onze anos depois, Pamela descobre que o pai vive na mesma cidade e decide vê-lo novamente.

*–
Fernanda Fernandes
Agente de Cultura e Lazer SESC São Leopoldo
[email protected]
(51) 3592 2129
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O tirano que comprou o Ocidente

Se você quiser saber com base em que estou escrevendo isso, leia esta reportagem no El País, em espanhol, que foi de onde eu tirei o título deste post.
O presidente promovido somente agora a ditador da Líbia, Khadafi, tem todas as razões do mundo para se sentir seguro da manutenção do seu poder. Não que seja uma atitude prudente, com meio mundo (aka Europa e EUA) atrás dele; e não que não saibamos que isto é jogo de cena, pois duvido que ele esteja tão tranquilo assim, mas deve estar muito longe de não ter mais esperanças de manter-se no poder.
Afinal de contar, ele tem investimentos em todo o mundo, e não são investimentos mirradinhos, como se pode ler na reportagem do El Pais. Seria de se esperar que qualquer pessoa, empresa ou país que tenha negócios com ele esquecesse, na hora, os prejuízos que acarretariam a perda de seu poder, e o acesso do ditador às suas posses. Mas só agora, há poucos dias, bloquearam os bens do ditador, e de maneira geral só agora perceberam que ele era um cara malvado. Até bem pouco tempo atrás, era um grande parceiro do desenvolvimento econômico mundial. Isso quer dizer que demorou para desconfiarem de um homem tão nobre assim (um grande investidor), e demorou muito para que se combatesse o prejuízo humano às custas do prejuízo financeiro – pois, até então, evitava-se o prejuízo financeiro às custas do prejuízo humano.
Daqui a pouco, um “pouco” eventualmente muito longo (quando uma ditadura passa a se alongar demais?) ele cai, afinal a Líbia não é a China. Mas o que eu me pergunto é quantos Khadafis deve haver pelo mundo. Ou quantos Khadafis menores pode haver pelo mundo, Khadafis em governos regionais dentro de um país, Khadafis presidindo empresas mais ou menos poderosas, Khadafis municipais, Khadafis de bairro…
Eu tenho uma teoria de que, quando Hitler morreu, aquele receptáculo de intenso nazismo que era o Führer explodiu em diversos pequenos Hitlers, como se todo o nazismo concentrado no ditador tivesse se espalhado, gerando não líderes capazes de convencer as massas a nazificar um país, mas hitlerzinhos, cujos representantes mais expressivos talvez sejam os skinheads-espancadores, mas essa micro-hitlerização expandiu-se em diversos pequenos Hitlers, em pequenos atos nazistinhas, às vezes muito pequenos e quase imperceptíveis. Pois bem, temo que já haja uma khadafização no mundo, repleto de pequenos khadafis e, o que é pior, talvez o próprio Khadafi seja, no fim das contas, apenas um imitador de tantos outros que vieram antes dele.

Sandubão

Para que eu possa escrever neste blog, precisam ocorrer três eventos ao mesmo tempo: assunto, inspiração, computador, internet e tempo. Ok, são cinco eventos então. Por isso, minha tendência é sempre passar longos períodos sem postar e, num dado momento, escrever cinco ou seis textos diferentes tudo no mesmo dia. E eles podem ter algo a ver uns com os outros ou não.

Por exemplo, agora, eu só queria deixar registrado o mravilhoso sanduíche que eu vou comer, de pimentão verde, cebola e azeite de oliva.
É um sanduíche tão bom que eu achei que merecia ser mencionado.
Só isso.